No prefácio Max Gehringer, já sinaliza o conforto que os introvertidos sentirão ao lerem o livro. Afinal, alguém parece finalmente entender seus anseios, suas angustias e suas potencialidades.
Realmente como introvertida assumida (sim faço parte deste 1/3 da população que é introvertida), me senti compreendida na complexidade de ser um introvertido no mundo, onde a extroversão e exposição em geral ditam as regras. Por outro lado, também traz reflexões importantes de como precisamos nos dar mais oportunidades de vivenciarmos coisas novas e que sempre temos a possibilidade de encontrar formas adequadas para nos adaptar em situações que quase sempre, são desafiadoras, como por exemplo, participar de um evento com pessoas desconhecidas.
O que falta é abrirmos espaço para a discussão e reflexão de como estas inserções podem e devem ser feitas, pois nem sempre o introvertido tem o tempo necessário para experimentar novas vivências no seu ritmo ou é perguntado se faz sentido para ele, fazer aquele movimento daquela forma. Este cenário, faz com muitas vezes, o introvertido não reconheça as fortalezas que tem e foque nas `dificuldades` apontadas pelas pessoas. Já vi vários introvertidos sendo atropelados pelas imposições de gestores que com dificuldade para entender isso e facilitar o seu processo de gestão, padronizam os comportamentos que esperam da equipe como sendo a única forma correta de ser e contribuir.
Um dos pontos que achei mais interessante no livro, foi a teoria do traço livre, neste conceito, mesmo o mais introvertido, pode ter momento de extroversão, onde temos o “pseudoextrovertido”. Isso acontece quando um introvertido encontra algo que está relacionado com a sua paixão, missão e/ou sua área de domínio, ou seja, algo que tem significado para ele e por isso ele usa a ´extroversão´ como ferramenta para passar sua mensagem.
Quem já não viu uma situação destas no trabalho? De repente, aquele colega mais reservado, parece se transformar em um evento, treinamento ou reunião. Quando isso acontece, passa a percepção de uma pessoa extrovertida, porem no momento seguinte comporta-se de forma discreta e analítica novamente. Muitos perguntam, o que aconteceu? Ele não pode manter o comportamento extrovertido que teve agora pouco? O ponto chave para compreender estas nuances de comportamentos é que a cada momento de “pseudoextroversão”, o introvertido precisa necessariamente passar por nichos restauradores. Nichos restauradores são momentos e/ou situações, onde o introvertido pode silenciar sua mente e ficar consigo mesmo.
Muitas vezes fui questionada, como sou trainer e palestrante, sendo uma pessoa mais introspectiva. Aí está a resposta, faço o que gosto e com paixão e para que a minha mensagem possa ser compartilhada, sou uma “pseudoextrovertida” quando necessário, porem preciso dos meus momentos de restauração. Em geral, são na minha casa, sozinha no meu sofá, tomando um chá ou lendo um livro e isso reestabelece minha energia. Com certeza não será em um happy hour que irei me reenergizar. O ponto de atenção é que o introvertido ao passar muito tempo em ´pseudoextroversão´ sem nichos de restauradores, pode colocar em risco sua saúde, por estar desconectado da sua verdadeira essência.
Ao terminar o livro, fiquei refletindo: fala-se tanto em diversidade de gênero, idade, LGTB, mulheres, negros (debate superimportante e pertinente), no entanto ainda acredito que talvez precisamos dar um passo atrás, por que muitas vezes não conseguimos compreender e respeitar, o colega do lado só por que ele tem um ´jeito´ diferente da maioria. Tentamos muda-lo como se, ser introvertido ou extrovertido fosse uma das únicas variáveis que definem uma pessoa e seu profissionalismo.
Isso vale para todos, pois se é mais comum vermos os introvertidos sendo encaminhados para curso de teatro (nada contra, desde que a pessoa queira genuinamente fazer), também é valido que o extrovertido é taxado muitas vezes de superficial ou bobo alegre. Falta empatia, se permitir entrar no mundo do outro, entender como o outro funciona e ver que isso não é incompatibilidade para trabalharmos juntos e que podemos aprender muito uns com os outros. Uma das minhas melhores parcerias no mundo corporativo, era com uma pessoa extrovertida e fizemos projetos excepcionais, com uma respeitando o jeito de ser da outra e de vez quando nos desafiando a fazer diferente do que seria o nosso padrão atuação.
Por isso antes de julgar seu colega introvertido por que ele não vai ao churrasco, tente entender como ele é... e isso vale para você também introvertido, antes de criticar que seu colega extrovertido só pensa em happy hour, veja que ele recarrega suas energias de forma diferente de você. O mais importante desta história é que está tudo bem ser assim, para ambos.
Qual é a sua experiência com o tema? Comente qual a importância de ver as pessoas além de nossa tendência em coloca-las em boxes como por exemplo ser extrovertido ou introvertido. Compartilhe com a gente o que você acha.
Referência: O poder dos quietos – Como os tímidos e introvertidos podem mudar um mundo que não para de falar – Susan Cain
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